Entrevista referente participação na exposição PROPOSTA AO PREFEITO II , .do artista americano Brandon La Belle, convidado pelo Ybakatu espaço de artes, em Abril de 2009, na cidade de Curitiba,

Transcrição da entrevista a Mário Sampaio

por Mariana Von Hartenthal(USA)

Data: 16/05/2009

Local: via Skype

MS.: ...Principalmente da área artística, de onde a arquitetura se alimenta. [...] o cinema. O importante é estar sempre transitando. A Ybakatu é uma galeria muito interessante, sempre achei, e freqüento faz tempo. E também já tive a oportunidade de mostrar alguns trabalhos para ela. Ela já conhecia alguns dos meus trabalhos. Daí ela fez o convite, e eu aceitei.

MH.: Você já conhecia o Brandon?

MS.: Eu fiquei conhecendo com esse trabalho. Eu não conhecia. Quando ela me convidou sobre o trabalho ela me falou sobre ele. Quem eu conheço um pouco melhor é o Otávio Camargo. Aliás, ele já tinha me falado do Brandon, ele tinha me mostrado um livro do Brandon e eu não sabia que era a mesma pessoa. Na galeria, durante a exposição, eu encontrei o Otávio, que estava junto com o Brandon, que estava lançando um segundo livro. Parece que já fez trabalho com urbanismo, uma abordagem bem interessante, que o Otávio já havia me mostrado o livro. Um livro que ele estava lendo, ele também tinha participado do livro. O Otávio é professor da Belas-Artes.

MH.: Eu vi uma foto da tua maquete. Ela é totalmente diferente das outras. É na parede, não é?

MS.: É, exatamente. Eu instalei na parede.

MH.: Você pode me falar um pouco sobre ela? Como foi o processo de criação?

MS.: Quando a Débora fez o convite, eu recebi o som gravado, e a carta-convite que ela me enviou e dizia do interesse do artista. Então eu comecei a perceber, pelo som gravado, [incompreensível]

MH.: Você ouviu direto?

MS.: Ouvia. É, como eu sou sozinho no escritório, faço bastante coisas [incompreensível] sozinho, [incompreensível] pequenos trabalhos. Eu fiz várias coisas antes de chegar naquele trabalho lá. [incompreensível] Aquilo é uma síntese. Para mim a questão era de como representar. Eu não me senti à vontade de representar o lugar que ele morava como ele me pediu na carta. [incompreensível] arquitetônica, porque não é uma escultura, não é nem uma obra de arte, porque não tem essa pretensão. É realmente uma [idéia que eu montei]. E como era uma coisa que tinha que montar em cima do som, imaginar o espaço, eu imaginei, é claro, que queria mostrar o interior. Eu não teria nunca como fazer uma coisa externa, fechada, que revelasse como que uma forma [incompreensível]. É claro que a gente acaba numa forma física. Mas numa forma física não assim banalizada.

MH.: Você não quis fazer uma coisa assim, como representando uma idéia de ‘casinha’?

MS.: É, exatamente. Eu queria fugir do modelo, do estereótipo. Então realmente, eu fui super racionalista naquele negócio, eu representei literalmente um espaço onde eu imaginei que ele vivia. Sem fantasiar muito.

MH.: Tem algum som específico do qual você se lembra, que te marcou?

MS.: Quando você me falou [incompreensível] o que veio na cabeça foi a água, o som da água. Eu não sei, esta questão da água, porque ela está muito associada ao meu subconsciente. Eu sempre relacionei, eu sempre procuro nos meus projetos, relacionar com o elemento água. Porque a água é fundamental para a vida. O homem sempre usou a água, até mesmo como forma de culto, de símbolo. Por exemplo, [incompreensível] no interior das antigas residências, no meio da praça, dentro dos templos, enfim, a água para o homem, ela tem um poder extremamente forte, de simbologia. Eu até fiz um projeto com o [incompreensível], era uma residência, mas eu até procurei [incompreensível]. Duas coisas muito importantes, a água, e do vazio, que eu sempre penso. [incompreensível] que a arquitetura acontecesse na verdade em volta, como se fosse protegendo um grande vazio. Esse grande vazio era um grande deck onde tinha um espelho d’água, bem no meio, quer dizer, a residência acontecia [incompreensível] que não tinha nenhuma utilidade, a não ser a [incompreensível], mas que remete à questão histórica. [incompreensível] barulho da água [incompreensível] bem plano [incompreensível] um centímetro e meio que tinha em volta, essa água era recolhida e era bombeada novamente [incompreensível], aquele barulhinho da água [incompreensível] que me veio a água na cabeça, [incompreensível].

MH.: O trabalho do Brandon é focado nisso, na relação do som com o espaço. Qual é a tua visão sobre isso?

MS.: Eu tenho, mas para mim esta questão é tão importante quanto as outras questões da percepção espacial. Também com respeito à visão, tudo... A questão do som é muito importante, basta a gente lembrar inclusive das grandes catedrais da Europa. Esta questão é fundamental. [incompreensível] ela tem aquela monumentalidade toda. Eu sempre, na minha arquitetura, eu penso em tudo quando eu faço. É claro que às vezes, dependendo do conceito que você está buscando, você [dá destaque a] algumas dessas partes. [incompreensível] Tanto que esse espelho d’água que eu falei, ele provoca som, e o som da água, é extremamente de paz, a pessoa chega e ouve aquele barulhinho... Não aquele barulho chato de fonte, de água de fonte. Não é uma coisa assim, brega, é uma coisa muito suave, muito sutil. É uma sutileza. Foi uma associação que eu havia feito. Não só visual como acústica também.

MH.: Você acha que o som pode ser brega?

MS.: Depende. Qualquer coisa pode ser brega. Depende de como você expressar, de uma maneira sensacionalista, ou não. Sempre que há um exagero, sempre que ha uma desproporção, sempre que há uma intenção de chamar muita atenção... quando a gente faz isso acaba sendo um pouco inconveniente, acaba extrapolando o nosso espaço, e acaba sempre invadindo o espaço. Com essa agressão que às vezes a gente deixa de ter...

MH.: É por isso que música ambiente às vezes é irritante?

MS.: Pois é, exatamente. Eu, sinceramente, às vezes deixo de almoçar num restaurante porque é muito estranho, porque é de mau gosto, ou porque tem até uma música que me atrapalha, na hora do almoço. Eu acho que tem coisas que, se as pessoas tivessem mais consciência de que aquilo incomoda os outros, nossa, eles teriam muito mais clientes. E na verdade eles estão querendo agradar mas estão afastando clientes. Realmente. Sabe que a arquitetura interfere muito na nossa vida, e ela está muito presente. Interfere tanto positivamente quanto negativamente. E arquitetura é uma coisa de primeira necessidade, como ir ao médico, ao dentista, se alimentar. Só que as pessoas não atentam para isso. E por não atentarem, [incompreensível] acaba por acontecer todo esse tipo de coisa, que é até agressivo para a gente.

MH.: Esse problema do barulho em restaurante é uma coisa que quase todo mundo comenta.

MS.: É verdade. Assim como também em um restaurante você pode ouvir uma música de extremo bom gosto, uma banda, ou um músico, sozinho, tocando. Enfim, assim como existe o de mau gosto, existe o de bom gosto. A questão acho que nem é a música no restaurante, a arte, eu acho que é como isso é colocado. O problema é a falta de conhecimento [incompreensível]. Na verdade, esse conceito de arte, de arquitetura, é tão relativo. Tem gente que fala que existe a boa e a má arquitetura. Mas a cidade, ela é cheia de construções, eu acho que para ser arquitetura tem que ter algo mais. Tem que encantar, tem que causar espanto, como fala o Oscar Niemeyer. Para causar espanto ela tem que ser bela. Para ser bela, ela tem que ter toda uma matemática, tem que ter várias coisas complexas, de certa maneira. Parece ser simples mas por trás tem toda uma complexidade, todo um arranjo, toda uma matemática. Mas as pessoas não estão preparadas para fazer isso. Eu acho que a cidade não está cheia de obras de arquitetura, mas de construções. É um ponto de vista. Até tem bastante tempo que eu fico falando sobre essas coisas. Você pode analisar um povo pela sua arquitetura, se era desenvolvido ou não. Por exemplo, os egípcios. O que restou? A arquitetura. [incompreensível].

[...]

MH.: Faz quanto tempo que você se formou?

MS.: Eu me formei no final de 1993 na universidade. Em 1994 foi a formatura. Isso aí, tá com quinze anos já. Eu achava antes que quinze anos era bastante tempo, mas eu vejo que eu estou iniciando a minha carreira. Eu tenho tudo pela frente. Uma carreira de quinze anos para um arquiteto é realmente um iniciante. [...] É justamente esta coisa instigante do Niemeyer, de querer provocar, de estar sempre criando, que alimenta ele. É a fantasia, na verdade. O Niemeyer [incompreensível] é muito fantasioso. Eu acho que são os nossos sonhos, as nossas fantasias, que nos alimentam. Eu estou mais do que nunca cheio de fantasias.

MH.: Você acha que durante o curso de arquitetura, você acha que estas questões da percepção do espaço são abordadas de uma maneira instigante?

MS.: Eu acho que a universidade deveria ter esse papel, ser um centro de pesquisa, mas eu realmente, isso eu não percebi quando estive na universidade. Eu percebi como se fosse mais uma fábrica de profissionais. É claro, depende de cada um. O que é muito bom da universidade é que ela provoca o encontro. O encontro de pessoas. Eu encontrei muita gente com talento na universidade, muitos colegas criando. E é com essas pessoas que a gente vai aprendendo. E com alguns professores, que têm sensibilidade. [incompreensível] mas a universidade, ela não tem muito aquela preocupação. Pelo contrário. Quando eu comecei a pesquisar mais profundamente, no último ano, que eu quis fazer uma abordagem que era baseada em pesquisa e reflexão mesmo, e provocação, eu realmente não fui bem aceito. Até então eu era bem aceito e tirava sempre boas notas. Mas a partir desse momento, eu não sei o que aconteceu que parece que eu fui me distanciando, mas [incompreensível] eu ficava preocupado, e no entanto, eu estava feliz porque eu estava fazendo algo novo, eu estava feliz comigo mesmo, eu estava pesquisando, eu estava fazendo um trabalho que eu não sabia que fim ia ter. Na verdade, teve uns finais bem surpreendentes e bem satisfatórios, mas que para a universidade, não. Parece que aquilo ficou um pouco, os professores ficaram sem [incompreensível]. Na verdade eu estava com essa coisa instigante, pesquisando. Inclusive pesquisando sobre o Agache, sobre o que ele fez no Brasil, aqui em Curitiba, andando a pé pela cidade, vendo o que realmente tinha sido feito, o que não tinha. Analisando a intervenção feita no plano, em 68, lá [incompreensível] São Paulo, que montou um grupo aqui. Tentando entender a cidade, e andando nela, assim na prática. Tentando ler símbolos, vendo o impacto da publicidade, e comecei a fazer trabalhos sobre isso. Mas sempre que chegava o bimestre e eu não chegava numa forma conclusiva, porque eu ainda estava no processo de pesquisa, ah, eu levava dois, levava quatro. Era sempre assim. Mas com as boas notas que eu tinha tirado no primeiro bimestre, acabei indo para final e passei. Mas daí no final foi muito isso, meu trabalho foi um trabalho de crítica bem interessante que eu fiz em parceria com o Paulo Hoffmann, que é um grande colega meu, que foi meu sócio muito tempo, e a gente também fez muitos já desde a universidade. E toda idéia que eu tinha ele derrubava, e quando ele tinha uma idéia eu também derrubava, e a gente foi lapidando, lapidando, e pesquisando, e andando na cidade, e lendo, e indo ao cinema. E a gente começou a desenvolver um trabalho de crítica bem interessante. Ao urbanismo, arquitetura. Total semiótica o trabalho [incompreensível]. E é muito interessante porque serve como base não só para ser um arquiteto como para ser um urbanista, um designer. Dá pra focar de diversas maneiras. O que importa em todo o processo é a consciência. Porque [incompreensível] como a arquitetura, o design, são todos [incompreensível] para se expressar. Cada um se expressa da sua maneira, e eu escolhi a arquitetura como forma de expressão. Então, voltando ao assunto, eu acho que na universidade as coisas acontecem de uma forma muito desconexa. Você tem física aplicada, que fala de acústica, que fala de conforto ambiental. Daí tem teoria da arquitetura, tem teoria do urbanismo. Mas os professores, eles não se unem, [incompreensível]. Não existe um interesse em fazer um trabalho que realmente agregue os conhecimentos. E hoje, o que tem acontecido, que eu vejo muita gente se formando, a universidade parece que ela está atrás de suprir um mercado. O mercado, para mim, é uma coisa burra. O mercado é que tem que ir na universidade buscar idéias, descobrir idéias, buscar novas coisas, lançar novos produtos. Assimilar novas maneiras de se vender produtos, e não a universidade dizer que está restrita ao mercado e suprir o mercado. Então eu estou vendo uma distorção muito grande desta questão da universidade. Eu não sei se você já percebeu isso. Claro, já deve ter percebido, porque a questão da universidade é tão grande. E sinceramente, me deixa tão triste, de ver que você entra na universidade, e sai de lá pior do que entrou. Sair de lá viciado. [...] Mas a universidade acaba sempre promovendo o encontro, e isso é que é importante. E isso é legal. Certa vez eu fui fazer um concurso para dar aula na Federal, logo que eu me formei, a gente é cheio de sonhos, cheio de coisas, nesse aspecto da educação. E eu fui me inscrever para um concurso, eu tinha feito um ano de formado, era tudo muito recente. E daí eu fiz esse concurso [incompreensível]. Daí eu estava conversando com esse professor mais antigo da Federal, acho que era o Joel Ramalho, ele me deu uma carona depois da prova. E eu comecei a fazer umas críticas, aí ele me falou ‘ah, mas você não vai querer formar 40 Le Corbusier’. Aí eu falei ‘não é que eu queira formar 40 Le Corbusier, mas a gente pode formar 40 [incompreensível]. Eu não falei isso pra ele, mas eu pensei. [...] Mas sempre vai sair bons profissionais, geralmente sempre sai.

MH.: Você chegou a conversar com os alunos do Paulo Chiesa que fizeram uma das maquetes?

MS.: Não, porque eu não achei nenhum deles lá. Eu andei só [guiando] alguns trabalhos dos alunos.

MH.: Diz que eles estão indo bastante lá.

MS.: Sabe que isso é bom, porque movimenta a Galeria. Eu volto à questão do encontro. Lá, eles vão encontrar outras obras de arte na Galeria, como sempre tem. [incompreensível] do artista, o discurso do artista. Isto é muito importante para eles. Eu acho que o trabalho que eles fizeram no segundo ano, é um trabalho de principiante, de iniciante, de pessoas que estão tentando se expressar. Tudo é válido. Deve ter sido muito boa esta experiência para eles. Porque quando eu era estudante eu sempre procurava me meter nessas coisas também, em concurso de estudante. Desde o segundo ano, eu fiz concurso. Depois também no terceiro, quinto ano. Eu sempre estive envolvido com essas coisas. É muito legal, porque a gente vai aprendendo. Aprendendo com os colegas com quem a gente trabalha. Daí no dia da entrega do prêmio você não ganha nada às vezes, mas você conversa com os colegas, enfim. Tem toda uma coisa que envolve aquilo. Que é, de novo, o tal do encontro. É isso que desperta na gente o interesse pela pesquisa, pela leitura. É ir ver uma palestra em São Paulo, uma exposição no MASP, quando o MASP tava bem legal, agora parece que a [incompressível] do MASP não tá muito boa. Pelo que eu tenho visto, não tá trazendo grandes exposições como trazia no passado, mas eu já fui ver grandes exposições lá. E também eu fui ver palestras na cidade de São Paulo, como eu falei. [incompreensível].

[...]

MS.: A nossa profissão de arquiteto, só para concluir, é um grande desafio. Mas é uma coisa histórica, para ninguém, nunca foi fácil. O arquiteto é o tipo da pessoa que é sonhador, é fantasioso, mas é uma pessoa que também tá com um pé na realidade. E é extremamente teimoso. Porque só alguém assim pode fazer alguma coisa e continuar na profissão. Mas é assim para todo mundo. Para todos os arquitetos. A nossa profissão é um desafio. A gente sempre acha que para os outros é mais fácil, mas é que a gente não vive a vida dos outros. Mas todos os arquitetos da história também tiveram histórias fantásticas. Aquele [incompreensível] que você vê, aquilo ali é fruto de muita luta, de muita batalha, e o importante é persistir. As coisas vão acontecer. [...] Toda hora a vida apresenta uma nova situação. Nada é definitivo. As pessoas sempre querem viver esse conceito do definitivo, mas nada é definitivo. A gente sempre tá enfrentando situações ruins, mas também aparecem situações boas. Eu, quando acontece uma coisa ruim, já espero a boa. Quando acontece a boa, eu não espero a ruim! A vida é assim, uma sucessão de momentos, de situações. A gente tem que saber lidar com isso de uma forma equilibrada. Jamais se desesperar. Sempre procurar um equilíbrio. E obviamente tem que ser ousado. Se não tem ousadia, não dá um passo para frente, nunca sai do lugar. Tem que ter ousadia em tudo, porque em tudo aparecem desafios. Tanto no projeto, como na pesquisa.

[...]

Gôra na Arquitetura

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A política da Gôra sempre foi expandir suas referências para outras modalidades como artes, arquitetura e design. Mais que nunca este esforço vem dando resultados.

Nossa mais recente colaboração foi com o arquiteto Mário Sampaio, que acaba de terminar um projeto de apartamento muito bacana e escolheu nossas roupas para ilustrar as fotos do local.
Sua idéia era humanizar a produção fotográfica do projeto – já que as fotografias de arquitetura costumam ser criticadas por sua frieza. Alem disso, Mário também é adepto da mescla entre diferentes áreas.“A arquitetura é a roupa em grande escala, que protege, embeleza e dá dignidade bem como expressa um pensamento. Meu objetivo foi produzir um trabalho com a colaboração da Nicolle e do Thiago Autrann, onde moda, design, arquitetura e fotografia fossem vistos em unicidade”, destacou ele.


























Créditos:
Modelos: Juliana Johnson e Albert Nane
Fotos e desenho gráfico: Thiago Autran

Juliana Johnson veste GÔRA
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USEGÔRA


..................................N.008 - 25/OUT/2008

O arquiteto curitibano Mário Sampaio conta sobre seu audacioso plano de revitalização de uma praça na cidade histórica de Morretes, fala de sua identificação com os clássicos do design, e muito mais.

Já na faculdade você participou de exposições importantes, como isso contribuiu para seu trabalho?
Tudo faz parte, como em qualquer carreira, de um processo de sedimentação. A base tem que ser bem formada, porque é a sustentação de tudo. Foi o início de um interessante processo, o da minha formação como profissional e cidadão.

Qual o projeto que você considera um dos mais especiais em sua carreira?
Gosto bastante do projeto que fiz para a pequena praça Olympio Trombini, situada em Morretes, cidade histórica do litoral paranaense. Quando o prefeito me fez o convite, me apresentou um cenário insólito: uma praça degradada e um contexto urbano problemático, causado pela via de tráfego que liga ao Porto de Paranaguá. Além de dar solução ao problema mais imediato, o de tráfego, mergulhei numa intensa pesquisa sobre a cidade. Acabei me apaixonando quando me dei conta de sua linda história. Morretes é mãe de grandes artistas conhecidos nacionalmente, como Theodoro de Bona, Lange, João Turim, e do famoso historiador Rocha Pombo. No entanto, hoje ninguém se dá conta disso. A maioria das pessoas conhece a cidade apenas pela sua comida típica, o saboroso barreado. Assim, ficou claro para mim que o resgate desta memória era fundamental. Sugeri então a criação de um memorial aos artistas no terreno lindeiro, integrando-o com o espaço da praça e uma capela ecumênica, sob a qual , haveria um espelho d'água com seixos e pedras grandes, representando o rio Nhundiaquara, que é um dos cartões postais do local. Sem muitos recursos, propus um projeto que costumo chamar de arquitetura Franciscana: uma grande esplanada de concreto - mantendo a vegetação existente- o memorial, a capela e mais nada. O prefeito gostou, mas a obra acabou não se concretizando, por falta de recursos. Eu diria que foi um sonho feliz.



Onde você busca as inspirações para os seus trabalhos?
É muito subjetivo, mas posso dizer que agora vivo um momento de introspecção. Nesta viagem que estou fazendo para dentro de mim mesmo busco os valores da minha formação como individuo e toda a influência que tive do ofício de meu pai. Para alguns trabalhos a inspiração pode estar no fundo deste lúdico baú, em um desses momentos da minha história.

Como você definiria seus projetos? Algum estilo ou diferencial em especial?
Me preocupo muito com o conteúdo, com a conceituação do tema. Acho que a arquitetura deve denotar uma consciência no momento da abordagem. Mas cada profissional tem seu método e é dessa diversidade que nasce a riqueza das cidades. Da confluência dos pensamentos.

A Artesian está muito presente em seus trabalhos. Você se identifica com esse conceito de clássicos do design?
Sim. Sempre que penso na composição do espaço - e arquitetura também é espaço - procuro utilizar um mobiliário coerente, que se encaixe no contexto. É neste momento que entra a Artesian e seus clássicos. Considero sorte termos uma industria com essa qualidade. Falo isso com propriedade, porque tive oportunidade de conhecer suas instalações e o mentor de toda essa obra fantástica, que é o seu Dorival Hadas, o fundador da Artesian.

Para você arquitetura é...
A transformação do lugar comum em inusitado.

http://www.artesian.com.br/noticias_arq16.htm